Future Cities

Shake UP your city News : Entrevista a Tânia Calçada e Daniel Moura

 

“Há um aspeto muito importante, que ultrapassa as questões técnicas e científicas dos investigadores, que é o impacto nos cidadãos”. É com esta frase que Daniel Moura começa a descrever as vantagens da plataforma de testes UrbanSense. Esta plataforma está a ser implementada na cidade do Porto com o intuito de recolher diversos dados, permitindo futuras investigações no âmbito da psicologia, planeamento do território, ambiente, entre outros.

Juntamente com Tânia Calçada, os dois investigadores seniores são responsáveis por esta testbed que caracterizam como “híbrida” por duas grandes razões. Por um lado, há uma associação de vários tipos de sensores - de imagem, ruído, qualidade do ar, meteorológicos – e, por outro lado, há também a questão da mobilidade uma vez que haverá sensores fixos e móveis. “Vamos ter sensores fixos colocados em diversos pontos da cidade e outros móveis, instalados em autocarros, que permitem recolher informação de algumas zonas em que de outra forma não seria possível”, adianta Tânia Calçada. Os sensores fixos serão distribuídos pela Baixa do Porto permitindo recolher, e posteriormente correlacionar, dados como o número de pessoas ou de veículos, níveis de poluição, ruído, radiação ou qualidade do ar.

A realização de estudos de análise e correlação destes dados é, para Daniel Moura, “um aspeto muito positivo”. Em termos de ambiente ou de planeamento, “isto pode traduzir-se em alterações significativas”, ou seja, “podem ser desenvolvidas investigações importantes que resultem em propostas de alteração à Câmara Municipal do Porto como a requalificação, zonas demasiado quentes ou ventosas, por exemplo”, refere o investigador. Estas “descobertas” podem funcionar como alertas para as entidades, levando-as a corrigir determinados problemas. Daniel Moura vai mais longe e explica que, no futuro, a utilização de todos estes sensores “pode mesmo ajudar a detetar ocorrências que permitam alertar as autoridades atempadamente” como na deteção de um incêndio, uma inundação ou no caso de haver uma emergência médica.

Ao nível da imagem, as câmaras não vão recolher dados continuamente. Como explicou Tânia Calçada é possível “tirar partido dos outros sensores”. Como? A investigadora explica. “Quando é detetado um certo acontecimento fora do normal como, por exemplo, uma quantidade muito grande de Dióxido de Carbono ou um forte aumento do ruído, os sensores dão sinal de que algo diferente está a acontecer e as câmaras começam a filmar”. O objetivo é “tirar partido do know-how da equipa em analisar grandes quantidades de dados, relacioná-los e detetar eventos com a análise desses mesmos dados”, acrescenta.

Os investigadores estão agora numa fase de recrutamento. “Queremos muito a colaboração de alunos de mestrado ou de doutoramento que queiram explorar esta área, que queiram testar e fazer experimentação”, acrescenta Daniel Moura. Para integrar este projeto deve haver um interesse por áreas como “processamento de sinal e de imagem, reconhecimento de padrões, data mining, big data, programação de hardware e redes sem fios”.

A UrbanSense pretende tirar partido dos vários tipos de sensores e, simultaneamente, de outras testbeds já implementadas, como é o caso da Vehicular Network Testbed (VANET), à qual irá recorrer para ter acesso à internet. “Vamos utilizar ligações entre máquinas e, especificamente nos sensores móveis, as duas testbeds vão estar interligadas”, esclarece a investigadora sublinhando que, apesar de ainda estarem a ser ultimados alguns pormenores, “já está bem definido o que pretendemos fazer” e no primeiro semestre de 2014 “já teremos os sensores a recolher dados”.

A plataforma de testes UrbanSense insere-se no projeto Future Cities, um consórcio que reúne inúmeros parceiros, desde Universidades a empresas. Relativamente a esta multidisciplinaridade do projeto, Tânia Calçada adianta que “esse é o caminho e faz todo o sentido, visto que quando se interligam pessoas de várias áreas, os frutos são necessariamente bons pois há um intercâmbio de conhecimento e isso é muito positivo”. Já Daniel Moura refere ser “espetacular esta dinâmica da equipa em envolver a autarquia como representante dos cidadãos, da cidade, mas também empresas que prestam serviço público como a STCP porque muito do trabalho que se pretende fazer será para proveito dos utilizadores”.

 

Perfil

Tânia Calçada

Atualmente, Tânia Calçada é investigadora auxiliar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto no projeto Future Cities, financiado pelo FP7.
Licenciada em 1999 em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto começou por desenhar soluções de redes corporativas e gerir projetos de redes empresariais como colaboradora do operador de telecomunicações Novis do grupo SonaeCom. Em 2004 regressou à academia integrando a equipa de investigação do INESC Porto participando em projetos nac
ionais e europeus na área das redes sem fios sendo o foco da sua investigação a interligação de redes ad-hoc com as redes infraestruturadas. Em 2009 participou como gestora de projeto de redes veiculares com autocarros da STCP. Em 2013 defendeu o seu doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto tendo como tópico as estratégias de atribuição de canais rádio em redes emalhadas sem fios. Tânia Calçada foi ainda docente tendo lecionado sistemas de telecomunicações sem fios e engenharia de redes. A docência foi interrompida para se dedicar exclusivamente à investigação.

T&D2

 Daniel Moura

Daniel Moura é investigador auxiliar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto no projeto Future Cities, financiado pelo FP7.
Licenciado em 2001 em Engenharia Informática e Computação pela Universidade do Porto, iniciou a sua carreira profissional com a especificação e implementação de sistemas de gestão de informação clínica na Companhia Portuguesa de Computadores. Em 2003, deu início à sua carreira como investigador na área de Inteligência Artificial, tendo obtido o grau de Mestre em Inteligência Artificial em 2006 com trabalho nas áreas dos sistemas multi-agente e otimização. Em 2011 obteve o grau de Doutor em Engenharia Informática pela Universidade do Porto, tendo contribuído com métodos e modelos nas áreas da Visão por Computador e Imagem Médica para avaliação 3D da escoliose. Entre 2011 e 2013 foi investigador post-doc no Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial, tendo trabalhado em Data-Mining, Visão Computacional e Imagem Médica, com aplicação ao diagnóstico do cancro da mama e determinação da idade óssea. Daniel Moura foi também docente universitário durante sete anos, cinco dos quais na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em unidades curriculares das ciências computacionais, incluindo inteligência artificial, otimização, e sistemas distribuídos, tendo interrompido a docência em 2013 para se dedicar exclusivamente à investigação.

 

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